Porque você precisa fazer um intercâmbio?

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Ao ver a palavra intercâmbio pela primeira vez na vida logo vem a mente aquelas imagens de filmes ou a ideia de que uma pessoa de outro país vem morar na sua casa e você vai pra casa dele em algum lugar desse mundão. Essa ideia de ter que sair de “casa” pra enfrentar um novo mundo assusta muito e você tem razão em pensar assim, afinal vamos conquistando o ambiente em que vivemos e com o tempo sair desse zona de conforto pode parecer uma loucura, e vou te falar que é.

Kipá - Necessário na visita ao túmulo do rei Davi em Jerusalém

Kipá – Necessário na visita ao túmulo do Rei Davi em Jerusalém

Um mapa de uma cidade desconhecida. Quer coisa melhor???

Um mapa de uma cidade desconhecida. Quer coisa melhor???

Acredito que todas os seres humanos tem dentro de sí essa vontade de sair viajando pelo mundo, conhecendo novos lugares, fazendo amizades e enfrentando os desafios que vão aparecer pela frente. Nossos antepassados eram assim, viviam de galho em galho por ai atrás de comida, moradia e melhores condições de sobrevivência enfrentando o frio, chuva, vento e ambientes totalmente desconhecidos. Depois de tanto andar o homem percebeu que poderia viver em apenas um lugar cultivando sua comida, construindo sua casa e criando uma certa estabilidade, antes impossível por causa das constantes mudanças. Sem me basear em estudos acredito que nesse momento surgiu a zona de conforto. Da necessidade de sobrevivência as aventuras em lugares desconhecidos passaram a serem consideradas risco.

De uma coisa eu não tenho dúvida; temos que conhecer novas realidade para formarmos as nossas próprias concepções e conceitos. Quem vive em apenas um ambiente limitado de conceitos novos e ideologias diferentes tende a ter apenas um ponto de vista sobre a vida e isso pode ser um problema a longo prazo. Os tempos mudaram e hoje todas as relações são muito globalizadas e quem tem a mente muito fechada ou sente medo do novo pode ficar pelo caminho em meio a tantas informações e novidades. Um regra de ouro hoje pode se tornar ultrapassada amanha. Um conceito forte que você tem hoje pode mudar amanhã e tudo que você pensa sobre um assunto pode não ser verdade ou ter outras interpretações, tudo depende do ponto de vista. Eu não sou contra nenhuma religião e por sinal gosto de estudar e conhecer o máximo possível sobre tudo na vida justamente para ter a minha opinião. Os livros sagrados sejam o alcorão, bíblia, torah ou o surta trazem inúmeros textos e ensinamentos que são fundamentais para seus seguidores, entretanto o que é interpretado depende do conhecimento e ponto de vista de quem esta lendo. Dizem que cada trecho pode ser entendido de uma maneira por mais que você já tenha lido aquilo por 10, 20, 100 vezes. Isso mostra que tudo depende do momento que você esta vivendo e qual é a sua bagagem cultural. Recentemente vi uma matéria sobre o EI (Estado Islâmico) que é um grupo muçulmano que vem trazendo terror a Síria e tem como finalidade instituir e converter pessoas a força criando um estado único. O interessante nisso é que a maioria dos lideres muçulmanos já declararam que esse grupo não os representa. Um desses lideres disse a reportagem: Eles estão fazendo uma interpretação própria da alcorão e isso não é o que esta escrito. Isso não acontece apenas naquela região porque no próprio Brasil vemos inúmeras situações ligadas a religião que são frutos de pessoas sem um conhecimento amplo do mundo e que entendem como querem as coisas criando situações, julgamentos e contradições.

Sabe aquela famosa frase de que existe um mundo lá fora? Sim, existe e ele é muito maior do que qualquer pessoa pensa. Eu sempre gostei de ficar olhando as pessoas e tentar imaginar o que elas estavam pensando. Se tem uma coisa que sinto falta e vou sentir é justamente essa possibilidade de pelo menos por alguns segundos ter essa sensação. No Brasil isso também acontece mas em um nível menor porque somos todos Brasileiros mas durante o intercâmbio em cada passo você tem a possibilidade de ver pessoas de diferentes países principalmente na Irlanda que é um país de muitas nacionalidades.  Isso sem falar nas viagens onde o mergulho cultural foi algo indescritivel. Graças ao intercâmbio tive a chance de conhecer mais de 35 cidades em 15 países da Europa, Africa e Oriente Médio. Esse mergulho me colocou de frente com novas realidades, pensamentos e conhecimentos que mudaram a minha vida. Hoje não sou nem de perto o mesmo André que saiu de Patos de Minas no dia 7 de março em 2011. Alias essa mudança começou um ano antes quando visitei a Bolívia durante uma excursão com o torcida Motozeiros do Cruzeiro na fase preliminar da libertadores de 2010. Já contei isso aqui no blog mas foi naquela viagem que eu tive a certeza de que o mundo é muito grande e eu precisava conhecer o máximo possível. Aquela sede que eu já existia se tornou maior e lá fui eu pra Irlanda. Depois de 3 anos e 2 meses em Dublin e com todas as coisas vividas me pergunte se essa sede foi saciada?

E a zona de conforto? … minha opinião depois de 2 anos e meio na Irlanda.

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Antes de vir pra Irlanda eu li muita coisa sobre a zona de conforto e claro sempre ficava apreensivo do que poderia acontecer com a escolha de fazer um intercâmbio. Essa “zona segura” nada mais é do que uma bolha que vamos criando ao longo dos anos até nos sentirmos tão seguros, tão seguros que não temos coragem de sair dela. Essa “falsa segurança” vem com um emprego, casa, carro, conquistas na carreira, amigos, família e assim vai. Tudo que esta ao nosso lado contribui para irmos criando camadas na nossa bolha. Esse processo e involuntário e vai acontecendo com cada pessoa até mesmo sem percebermos a gravidade que isso trás. Se sentir seguro é muito bom porque você tem tranquilidade, entretanto essa tranquilidade pode trazer também uma falsa sensação de …. ok, está bem agora e não preciso mudar nada. Tenha uma certeza na sua vida: quando isso acontecer você estará com sérios problemas. O ser humano precisa sempre de desafios e principalmente mudanças então fique ligado e cuidado para não entrar nessa bolha com os olhos fechados porque depois será complicado pra sair. Será difícil mas não impossível ! Nada melhor que um intercâmbio para sair dessa bolha. Para tomar essa decisão você precisa apenas:

– Sair do trabalho atual seja ele um emprego qualquer ou uma posição com status conquistada com muito suor
– Deixar os amigos, familiares e em alguns casos o amor da sua vida (pelo menos por um tempo)
– Deixar seu carro
– Deixar a sua rotina diaria
– Não comer a sua comida preferida
– Abandonar por completo a sua noção de mundo

E ter coragem de:

– Ir para um pais desconhecido
– Não falar direito a língua local
– Sair do Brasil com a cabeça muito aberta e principalmente se preparar para tudo que vai acontecer
– Encarar qualquer emprego
– Aprender a conviver con o pensamento “o que eu estou fazendo aqui?”
– Vencer os desafios de morar sozinho e cuidar sua sua própria vida pessoal, financeira e sentimental
– Não tem ajuda de ninguém (ter que fazer as escolhas sozinho e cada escolha será essencial para o seu sucesso ou fracasso)

Esse são apenas alguns pontos porque tudo depende do seu ritmo de vida, daquilo que você faz e principalmente da vida que você levou até ter a ideia de fazer um arriscar em algo novo. A sua criação e relação com a sua família também vai ser determinante para a decisão. Independente se você mora sozinho, com a sua família, é casado (a), tem 15 ou 100 anos.. esse processo será normal pra todo mundo. Algumas pessoas tem uma facilidade maior enquanto outras tem muita dificuldade. Para tomar a decisão você precisa entender que tudo vai ser por um período apenas seja de 1 mês, 1 ou mais. Você vai voltar para os seus familiares e amigos com certeza. Para o emprego, talvez não porque você voltará com uma experiência melhor e principalmente com a cabeça diferente. Você precisa entender que tudo será por um tempo determinado e com certeza você terá chances melhores na vida quando voltar. Em alguns casos esse processo nem é opção mas sem necessário como foi o nosso caso.

Sair da zona de conforto é muito mais do que sair de casa com um monte de malas e sonhos na mochila. Sair da zona de conforto é dar uma nova roupagem pra vida porque você poderá experimenta uma vida diferente, conceitos novos e principalmente descobri que a sua bolha era muito pequena enquanto que o mundo e muito grande para não ser “vivido”. Eu fico impressionado como as coisas são diferentes do que eu pensava e olha que eu sempre tive a cabeça muito aberta para coisas novas entretanto pensar é uma coisa, viver é outra completamente diferente. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer e conhecer novas culturas. Na minha querida Patos de Minas só tinha contato com o meu povo local e as vezes com pessoas de outras cidades em viagens etc. Tinha contato pela internet com muita gente mas viver as pessoas é outra coisa. Eu fico impressionado com a cultura de cada pessoa, até mesmo pessoas do Brasil porque aqui você tem contato com gaúcho, carioca, pernambucano, etc.. e cada pessoa trás uma roupagem diferente do que é viver. Além dos Brasileiros a melhor parte e ter contato com culturas de outros países. Eu já tinha essa noção das pessoas e depois das aulas  de sociologia, antropologia e historia da arte do meu querido Professor Moacir tive ainda mais essa ideia do que e ser uma pessoa dentro de uma torre de babel que e o nosso planeta. Com certeza esse período na faculdade foi um salto decisivo para solidificar o ideia de experimentar outras vidas. Mesmo andando na rua aqui em Dublin você vê como as pessoas vivem de formas diferentes uma das outras, comem diferente, pensam diferente, se vestem diferente e tem ideias completamente diferentes do que as suas. Em janeiro viajamos por 4 países e 9 cidades diferentes e em cada esquina tinha a sensação de estar sendo preenchido por essas diferenças incríveis. Nessas cidades além do contato com o povo e a cultura local, visitamos o passado em ruínas, monumentos e templos. Tudo e tão impactante que você nem tem vontade de ir embora e a “fome” só aumenta a cada lugar. Como uma pessoa apaixonada pelas historias da Roma antiga que sou, quase senti e ouvi os gladiadores no Coliseu e na arena de Verona. Foi como se eu estivesse ali vendo tudo aquilo ao vivo, foi incrível. Na Grécia então foi quase um nirvana e no Marrocos a sensação de que estava em outro planeta. Estava conversando com a Stefane essa semana sobre isso e as vezes nem parece que foi verdade tudo que vivemos aqui. A Mariane Cimi é uma aluna aqui da NED e nesse final de semana postou uma foto do rio Liffey com a legenda: As vezes nem acredito que eu vivo aqui  ! Essa é a sensação que eu também tenho de tudo porque um dia vou embora e ao acordar na minha cama terei a sensação de que tudo não passou de um sonho. O bom nisso tudo vai ser que foi tudo real e poderei reviver cada momento pela fotos e vídeos mais principalmente viajar nos pensamentos e lembranças dessa aventura. O contato com outras pessoas seja do Brasil ou de outras países é muito bom porque você tem uma nova noção de mundo, deixa preconceitos de lado e se vê diante de desafios novos. Analisando tudo que vive aqui em 2 anos e meio posso dizer com toda certeza que vale muito a pena “abandonar” a sua vida para embarcar rumo ao desconhecido. Todas essas experiências e sensações vão te moldando em uma nova pessoa porque o que você pensava antes não existe mais, seus valores crescem e principalmente a sua visão sobre o ser humano muda muito. E difícil escrever sobre esse tema porque cada pessoa tem um conceito sobre a vida mas uma coisa é certa: Ninguém volta pra casa do mesmo jeito, você pode voltar uma pessoa muito melhor e claro muito pior. Da mesma forma que sair da zona de conforto abre um novo horizonte positivo do outro lado negro você pode voltar ainda pior.

As vezes ainda nao acredito que moro aqui... Mariane Cimi

As vezes ainda não acredito que moro aqui… Mariane Cimi via Facebook (Foto Rio Liffey)

Muito bem, os pontos positivos dessa aventura que é sair de sua bolhinha são muito grandes. Quando voltar para o Brasil ou ir para qualquer lugar vou ter a certeza de ter feito a escolha certa e principalmente nunca mais terei mais a sensação de estar “confortável”. Sempre vou querer viajar para me alimentar das experiências e principalmente não terei medo das mudanças. A vida é feita para ser vivida e nunca podemos ficar “plantado” no mesmo lugar.  Talvez esse seja apenas o primeiro intercâmbio e a primeira fuga da minha bolha …. !

Zona de conforto x Auto Conhecimento

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Como já citei aqui em outro post, sair da zona de conforto pode trazer vários problemas e dificuldades para uma pessoa, mais pode ser também uma possibilidade de auto conhecimento e disciplina. Quando estamos em nossas casas confortáveis e temos tudo à disposição; roupas limpas, comida e nossas camas arrumadas as coisas parecem ser praticamente impossíveis longe dessa redoma de cristal. Claro que dá pra mesclar as duas coisas e sair com o objetivo alcançado, isso porque ninguém é de ferro não é verdade?

Sempre morei com minha mãe e depois de 28 anos e meio resolvi sair da barra da saia dela para buscar algo maior na minha vida. Tive que deixar grandes amigos, toda uma vida pessoal e profissional construída em Patos de Minas – MG. Morava em uma cidade de cerca de 150 mil habitantes e você acaba formando um ciclo muito grande de conhecidos e parceiros profissionais ao ponto de para qualquer problema um contato pode ser acionado para resolver ou indicar uma solução. Havia terminado de concluir minha graduação em Comunicação Social – Publicidade e tinha algumas propostas para sair da minha cidade, mais resolvi fazer um intercâmbio em busca de outras oportunidades num futuro próximo.

O ato de sair de casa não é nada fácil mais se feito com muita preparação leva o ser humano a frente de seu tempo e te deixa preparado para as adversidades. Primeiro é precisar saber o que se quer fazendo uma loucura dessas, definir suas metas e objetivos e traçar o caminho mais seguro para se alcançar o sucesso almejado. Quando estava na faculdade tive a graça de conhecer professores que me impulsionaram a ser uma pessoa mais destemida e mais consciente de que a caminhada humana é construída por desafios e pelo doce sabor da vida que tem que ser deliciada por completa todo dia, mais que também é sempre bom guardar uma gota desse sabor parar uma eventual ocasionalidade – Professor Moacir. Por falar no Professor Moacir foi com ele que aprendi a encarar a vida como uma grande peça teatral em que somos ao mesmo tempo diretores e protagonistas, que é preciso ter o controle total, mais também deixar os fatos da vida contribuírem para um desfecho mais completo e realizado.

Desde que pensei em sair mesmo do Brasil em busca de conhecimento sempre tive um certo receio porque convenhamos é um risco tremendo, por um lado o investimento financeiro que não é assim pouca coisa e por outra a adaptação longe de casa, dos amigos e da rotina criada ao longo dos meus 28 anos. O lado financeiro pesou já recém formado torrei dinheiro que tinha e que não tinha em 4 anos e ainda no final na formatura, fotos, roupas ,etc. Mais sempre acreditei que seria possível, parcelei um pouco, tomei dinheiro emprestado e vendi minha moto. Aqui estou em Dublin quase 1 mês e me sinto completamente em casa com todo que tem acontecido e as pessoas que tenho conhecido, me sinto a vontade pra andar por todo lado, pra pedir informação, pra comprar coisas no supermercado e sair na cidade em busca de algo novo. Sinto-me muito a vontade com o clima e mais a vontade ainda em casa. Tive a graça de conhecer 3 gaúchas muito legais, as mesmas que alugamos um apartamento e estamos morando eu, Stéfane e elas. Com isso o valor do aluguel ficou abaixo do que havia planejado. Por falar na Stéfane é uma parte que me ajudou bastante já que ela esta aqui e faz parte de tudo que esta acontecendo e os planos para o futuro, é uma parte que graças a Deus ajudou porque deve ser foda porque deixar os pais já foi complicado, e entrando nessa lista namorada, esposa e filhos a situação se torna muito mais difícil.

Acho que o momento certo pra fazer uma loucura dessas é a qualquer momento. Sempre é o momento certo basta o planejamento, ousadia e a coragem que na maioria dos casos falta. Quando estava pra vir todo mundo dizia que era bacana demais, que estava fazendo a coisa certa mais que não teria coragem de fazer o mesmo. Como disse sair da zona de conforto não é nada fácil mais pode ser uma oportunidade muito grande para o auto conhecimento e descobrimento de outro mundo fora das barreiras e rotinas que criamos ao longo da vida.
Sair da zona de conforto por outro lado pode deixar a pessoa com “muitas asas” e isso pode ser um problemão porque estando fora de casa as coisas parecem sempre mais fáceis e sem limites. Aqui em Dublin a moçada se diverte todo dia, todo dia tem pub, tem show, tem festas e tudo mais que se pode encontrar numa grande cidade. Muita gente acaba se perdendo dentro do projeto inicial e dedica sua estadia aqui somente para curtir a vida e acaba deixando tudo que foi sonhado de lado para curtir a vida por 1 ano (tempo médio de visto para estudantes) e depois acabam voltando para o Brasil apenas com a experiência de ter vivido fora do pais sem ao mesmo ter aprendido inglês de uma forma que dê pra aproveitar a língua de alguma maneira. Como disse é preciso ter foco, se for estudar estude, se for apenas curtir, curta claro ao extremo.

Conheci pessoas na internet que trancaram a faculdade no Brasil, venderam carros, ou esperaram terminar o curso ou apenas deram na cabeça e pularam de para quedas aqui na ilha. Cada um sabe seus tempo e o que pode acontecer, então faça suas escolhas, se planeje e coloque a mochila nas costas e parta em direção a seu sonho que ele vai se realizar, depende apenas de você.

André Luiz de Oliveira
28 dias em Dublin, Ireland.