O processo de retorno ao Brasil – Parte II

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Pronto, passados os minutos finais em Dublin com o processo de check-in, malas, Dexter, etc…. ficamos no portão de embarque por alguns minutos e ao entrarmos no avião veio um filme a minha cabeça. No meu filme pessoal sobre a Irlanda um toque de felicidades, derrotas, conquistas, medos, incertezas, sorrisos, amigos, amores, bichinho de estimação, trabalho, desemprego, viagens, paraísos, pobreza, riqueza, mar, frio, vento, chuva, neve, blusas de frio, comidas etc,, etc.. A partir dali tudo mudaria e ao decolar da Irlanda tive a sensação de dever cumprido, objetivos superados e no fim estava feliz, apesar daquela lágrima que caiu.

Escrevendo esse post e ouvindo Rádio Nova 100.3 direto de Dublin – http://www.nova.ie

Primeiro dia no Brasil depois do retorno. O pôr do sol direto da janeiro do meu quarto.

Primeiro dia no Brasil depois do retorno. O pôr do sol direto da janeiro do meu quarto.

Antes de continuar tenho que explicar uma coisa. Por mais que convivesse com muitos Brasileiros no trabalho e morasse com uma Brasileira em Dublin é diferente quando você ouvi uma pessoa que você conhece e uma voz desconhecida falando português. Depois de um tempo morando fora é normal olhar pro lado quando se ouvi português.

Pois bem, chegamos em São Paulo e logo ao desembarcar o volume do português aumentou e veio o primeiro choque. Não sei se essa sensação acontece com muitas pessoas mas tive a sensação de estar caindo em um redemoinho e todos os sons entravam pelos meus ouvidos de uma forma diferente. Logo em seguida encontramos o local do próximo vôo para Uberlândia e então procuramos um local pra comer. É terrível, complicado, difícil e incrivelmente assustador as primeiras horas depois do desembarque. Tudo chama a atenção dos olhos e dos ouvidos. Pessoas conversando do seu lado, as roupas, o ambiente, a educação, etc. Essa sensação é tão difícil de descrever já que estivemos aqui, moramos aqui mas tudo parece diferente. Nem mesmo em viagens por outros países diferentes como os de língua árabe senti essa sensação.

O segundo choque é quando se pede um café ou suco e tudo custa mas de 10, 15 reais. Quando se mora fora todo mundo fala que as coisas no Brasil são caras mas você pensa que não. Os preços nos aeroportos são extremamente caros e abusivos e como você acabou de chegar imagina que tudo esta naquela faixa de preço e logo pensa… não vou conseguir viver aqui. Como as pessoas fazem pra sobreviver comprando um café por 10 reais ou um misto simples por 15 reais?

O terceiro choque é a educação das pessoas. Não é que fora do Brasil todo mundo seja educado mas o tratamento é diferente. Pelo menos na Irlanda se você esbarra em algum o SORRY vem automaticamente (Sim, na Irlanda usa-se SORRY pra pedir desculpas). Nos mínimos detalhes você se senti triste e tenta entender o que esta acontecendo. Dentro da educação também esta o hábito de falar mal das pessoal, falar da vida particular nos locais de trabalho etc. Claro, que fazemos isso também em qualquer lugar do mundo mas é diferente, mais discreto e não dá pra falar da sua calcinha enquanto serve um cafezinho ou faz um suco para os clientes. Essa situação aconteceu em pelo menos 3 locais diferentes. Sim, isso é uma reclamação pro Aeroporto de Guarulhos porque além dos preços abusivos a maioria dos funcionários não tem um mínimo de preparo para desempenhar funções de atendimento.

O próximo choque é sobre o aeroporto. Informações desencontradas na fila do check-in por causa do Dexter. O senhor tem que ir ali naquela fila, não na verdade é no auto atendimento e por fim, retorne a fila porque não tem como fazer aqui com o gato. Despachamos as malas e Dexter com uma hora antes do vôo pra ele não ter que ficar muito tempo em algum canto e também termos um risco menor de objetos furtados das malas (sim, isso pode acontecer também .. Google It !). Passamos pelo setor de segurança e fomos pro setor de embarque. Ao entrar pelo menos umas 1500 pessoas nos corredores reclamando e andando de um lado pro outro. Uma greve da empresa que presta serviço pra GOL impedia a colocação das bagagens nas aeronaves. Alguns vôos com mais de 3 horas de atraso e dai pensamos ferrou, coitadinho do Dexter que não comeu quase nada e já passava das 24h dentro da caixa de transporte. Ficamos com o coração na mão e lá fomos nos esperar a bondade dos funcionários mal treinados e sem preparo para dar informações em situações de crise. Passada 1 hora sem nenhuma informação no painel ou direcionamento dos funcionários bateu a fome e lá fomos nós de novo procurar um lanche. Daquele ponto não tem como voltar pra rua então imagina como são os preços? Mais caros ainda? Sim, claro. Logo depois apareceu um aviso por um milagre e nosso vôo foi anunciando para 2 horas depois do horário previsto. Nosso pensamento estava no Dexter mas sabíamos que ele não corria risco de vida porque gatos tem preparo para sobreviver a essas situações e até ficar sem comer ou beber durante longos períodos.

Bem, com uma recepção dessas não deu pra deixar de falar aquela frase clássica de quem acabou de retornar de um intercâmbio. MEUS DEUS, O QUE FOI QUE EU FIZ? COMO VAMOS CONSEGUIR VIVER AQUI? A cabeça vai a mil e tudo fica uma loucura.

Essa afirmação e totalmente aceitável porque dizem que a adaptação no retorno ao Brasil é mais difícil do que a da chegada no país estrangeiro. Essa sensação é aterrorizante, acredite nisso porque se você esta fora ou vai voltar um dia certamente acontecerá com você e olha que ainda estou falando do aeroporto, nem saímos na rua ainda. Junto com essa sensação vem o medo de furtos porque fora aprendemos a ser um tanto relaxados e sabemos que as coisas no Brasil são diferentes. Deixar a bolsa na cadeira, celular em cima de mesa etc são apenas alguns hábitos que devemos mudar desde as primeiras horas do retorno. Claro, isso não acontece em todos os lugares mas os números do aeroporto de Guarulhos não são animadores então tenha essa idéia na cabeça também.

Meu pai e minha mãe estava em Uberlândia nos aguardando e quando chegamos lá foi um alívio. Vimos o funcionário com o Dexter ainda da janela do avião e percebemos que estava tudo bem. Pelo menos ele veio no mesmo vôo porque com o confusão ficamos com o receio de um extravio de bagagens ou do próprio Dexter. Ele estava totalmente tonto, cansado que nem conseguia miar. Entramos no carro e abrimos a caixa mas ele não saiu porque estava sem forças coitado. Só depois de algum tempo é que ele comeu um pouquinho de ração. Abracei meu pai depois de 3 anos e 2 meses, foi estranho e incrivelmente legal. Minha mãe eu já tinha visto a pouco mais de 3 meses porque ela tinha acabado de nos visitar na Irlanda. Ver todo mundo junto de novo foi muito bom, essa sensação é incrível.

Bem, depois de 3 horinhas de carro chegamos na nossa querida Patos de Minas, ponto final dessa jornada, pelo menos para um período de descanso porque nossa aventura vai continuar …

Fatos:

– Não tivemos nenhum problema com malas extraviadas, objetos furtados ou desaparecidos.
– Nenhum objeto quebrado ou danificado durante o transporte e conexões porque afinal passamos por 4 aeroportos diferentes.
– O processo com o Dexter para emissão do documentação brasileira dele foi muito simples e fácil.
– Ninguém nos pediu para abrir as malas para conferir a cota individual de 500 dólares por pessoa. Esse era um ponto crítico porque existem dezenas e dezenas de histórias de pessoas que tiverão que pagar muita grana de imposto na alfândega de Guarulhos e outros aeroporto do Brasil por exceder o limite. Não existe uma regra a respeito desse assunto e tudo depende do dia, do vôo, do agente e de outras centenas de combinações.

No próximo post: As primeiras impressões na nossa cidade. Esse série de matérias continua ……

Dúvidas? Incertezas? Medos? use os comentários, fique a vontade porque estamos aqui para ajudar.

O processo de retorno ao Brasil – Parte I

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Antes de voltar para o Brasil é necessário fazer uma pesquisa bem ampla de como isso vai afetar a sua vida e principalmente definir metas a curto, médio e longo prazos. O planejamento de retorno ao Brasil para aqueles que já estão a mais de 1 ano fora (eu acredito) deve ser bem feito porque durante os quase 3 anos que trabalhei na Escola NED em Dublin vi muitos alunos nos procurar para saber sobre o processo de volta à terra verde.

A facilidade de viajar. Miss you Ryanair.

A facilidade para viajar. Miss you Ryanair.

Assim que decidimos fazer esse retorno a primeira coisa que fizemos foi começar a ler experiências de pessoas que passaram pelo mesmo processo. Pessoas que voltaram a terra natal depois de 1,2,3 ou mais anos. O processo é quase igual para todos. Choques e comparação sobre tudo que você encontrou no Brasil e a sua antiga vida fora são inevitáveis. Essa comparação acontece porque para quem morou fora a vida atual passa a ser a vida do exterior. É como se fosse uma atualização automática do facebook da cidade atual no facebook. Você passa a fazer parte daquele sistema, da sociedade, cultura etc. Com isso você passa a ter a mesma sensação dos moradores daquela cidade em relação a segurança, rotinas do dia a dia, transporte, alimentação, clima, etc. Esse processo é conhecido como aculturação onde você absorve o conteúdo do ambiente onde esta vivendo. Esse processo pode ser em um intercâmbio de curta ou longa duração ou até mesmo em uma viagem de final de semana. Depois quando você regressa ao ambiente anterior onde estava antes, o choque é inevitável e comparações vão acontecer naturalmente. Aqui vem a chave de tudo: saber entender o que aconteceu e ter tudo como um grande aprendizado para a sua vida. Ter a noção de como isso aconteceu e o que vai acontecer de agora para frente. Se você conseguir separar essas duas partes certamente a sua adaptação vai ser menos difícil mas se você retornar ao Brasil e ficar vivendo os dois mundos ao mesmo tempo certamente alguns problemas vão aparecer ao longo do seu novo caminho.

Como dito antes nesse blog o processo do nosso retorno durou quase 1 ano e por isso tivemos tempo para conversar sobre o assunto, entender o que iria acontecer, planejar e principalmente nos preparar psicologicamente. Eu acredito que essa é a parte mais complicada mas os demais pontos podem ser conversados e acalmados mas a parte do cérebro em si é muito difícil porque depende de uma série de fatores internos e externos. Vou descrever alguns pontos importantes que foram e estão sendo importantes no nosso processo de retorno ao Brasil depois de 3 anos na Irlanda.

O primeiro ponto que eu falei pra mim mesmo foi que se realmente fôssemos voltar, minha vida em Dublin acabaria e eu iria colocar todo que aconteceu em uma caixa e fechá-la. Todos os sentimentos, sensações, vitórias e derrotas estariam ali dentro e quando eu quisesse poderia abrir e senti-los novamente. É como se fosse um álbum de fotos porque realmente acabou e ficar pensando ou lembrando não iria ajudar em nada no processo de retorno. Tudo que eu vivi foi maravilhoso, realizador e nunca vou me esquecer de nada que aconteceu seja pelas memórias, fotos ou objetos mas quando o avião decolasse da ilha verde tudo aquilo deveria ser deixado de lado e uma troca automática no cérebro deveria ser feita para começarmos uma nova vida, (de novo). Quando o avião decolou de Dublin foi aquela sensação de vazio, um estranho sentimento como se algo tivesse morrido e doeu. Foi aquela velha frase de passar um filme na sua cabeça mas no fundo já tinha definido tudo e sabia que aquilo realmente tinha acabado.

Esse material foi dividido em partes porque vou passar por tudo que aconteceu. Desde esse primeiro momento de decisão até os dias atuais depois de 3 meses da nossa volta. (continua…)

Porque decidimos voltar ao Brasil?

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Para responder essa pergunta tenho que abordar vários aspectos.

1) Visto: O primeiro é a questão do visto porque como todos sabem é possível ficar 3 anos na Irlanda como estudantes de Inglês. Ao vencer o primeiro visto você compra um segundo curso e depois o terceiro, simples assim Ao final desse terceiro ano você pode seguir na Ilha Verde se for fazer curso superior ou MBA, mestrado etc, é processo mostrar progressão a imigração. Tudo depende do projeto de cada pessoa porque fazer uma faculdade no exterior é excelente e quem toma esse caminho terá suas recompensas entretanto o valor e a dificuldade com horários não encaixaria naquilo que eu buscava. Eu pesquisei sobre um MBA ou pós que são os passos que eu teria interesse mas além do valor ser alto para quem busca qualidade de ensino os horários seriam incompatíveis com as minhas atividades. Para deixar tudo que eu construí em termos de trabalho para procurar outro e começar tudo de novo seria complicado e difícil. O visto de trabalho também seria uma ótima opção, fato que eu até pesquisei e planejei porque recebi a proposta de uma das empresas que eu trabalhava. Novamente o projeto em sí não seria suficiente dentro do que eu procurava. Eu teria que deixar a escola onde trabalha para me dedicar apenas a empresa de eventos e nesse caso a Stéfane poderia ter o visto de acompanhante mas não poderia trabalhar, pelo menos legalmente. De uma forma geral tínhamos condições de seguir na Irlanda mas a longo prazo o projeto não era legal. Continuaríamos da mesma forma, ganhando o mesmo ou um pouco mais e não estaríamos crescendo na vida como profissionais.

2) Estudar: De fato, o que nos motivou a voltar foi a necessidade de seguir estudando e buscando novas oportunidades na vida. Chegamos onde dava para chegar com o passaporte Brasileiro. Acredito que existiam possibilidade de fazer dar certo para um momento apenas, não para um projeto a longo prazo.

3) Zona de Conforto: De uma certa forma caímos na zona de conforto porque tínhamos trabalho, morávamos numa casinha legal, estávamos comprando as nossas coisas e viajando pela Europa. Tudo estava tranquilo e quando isso acontece é hora de mudar. Gosto de ter desafios e como tinha as limitações de visto por não ter passaporte europeu acabei estacionando. Ainda dentro desse contexto a rotina do dia a dia é muito puxada, as vezes fisicamente e quase sempre mentalmente. Não tinha final de semana, feriado e quase sempre nenhuma noite livre então isso também pesou. O curioso é que eu sei que no Brasil será necessário trabalhar muito mais do que na Irlanda para poder viver (rsrsr)

4) Família e amigos:  Viver num ambiente de intercâmbio tem algumas complicações porque todo mundo tem um ciclo e hoje você tem um grande amigo e amanhã ele esta partindo para o Brasil. As amizades acontecem e tive muitas pessoas ao meu lado do início ao fim mas não é a mesma coisa, todo mundo esta sempre trabalhando e a vida vai passando. Por mais que você seja resolvido e consiga viver longe da família vai chegando um ponto que você sente a necessidade de voltar para fazer parte de alguma coisa, ficar mais próximo etc.

Existem outros pontos a serem considerados mas isso depende de cada um. Ficamos 3 anos e 2 meses na Irlanda sem vir no Brasil nenhuma vez mas também tive contato com pessoas que estão a 4, 5 anos sem contato direto com o Brasil e outros ainda não pensam em vir aqui pra nada. O desejo de morar em Dublin pra sempre existe claro mas também existem outros aspectos a serem considerados e não posso ser irresponsável de pensar que a vida vai acontecendo por acaso. É preciso planejar, pensar e programar. Cada pessoa reage de uma forma ao intercâmbio e cada um tem seu projetos e tempos diferentes. O nosso ciclo realmente chegou ao fim em Dublin e temos que seguir em frente. Essa decisão não foi tomada da noite pro dia pois ficamos praticamente 10 meses conversando, estudando as possibilidade na Irlanda e no Brasil. Não nos deixamos levar pela emoção nem pela razão. Foi um processo de muitas conversas, muito planejamento e principalmente escolhas. Aqui estamos, começando uma vida de novo (nem acredito porque já é a segunda vez que mudamos para um lugar desconhecido) mas temos a certeza de termos feito as escolhas certas, pelo menos nesse momento.

Voltamos com a idéia central de crescer, estudar e investir nas nossas vidas para fazer a pena. Vamos atacar com tudo que temos em busca de oportunidades e novos objetivos que estão sendo traçados… temos ainda muitas páginas na nossa vida a serem escritas e Dublin ficou pra trás porque esse capitulo chegou ao fim.

Curtem, compartilhem e fiquem a vontade para fazerem perguntas. Os próximos textos vão ser sobre malas, mudança,  as nossas primeiras impressões e muito mais sobre o retorno ao Brasil depois de 3 anos na Irlanda.

“Dia 6 de maio desembarcamos as 07:00h da manha em Guarulhos e o nosso voo para Uberlândia seria apenas as 13:30h. Passamos por todo o processo da alfândega e sentamos para em uma lanchonete ali mesmo. Café 7 reais, pão de queijo 6, suco 8, água 4 e um monte de gente falando em português, falando da vida dos outros, umas roupas estranhas.. PRONTO: Pânico geral e depois de meia hora surgiu a conversa … Amor acho que não vou conseguir me adaptar … (continua).

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Nossa última viagem de LUAS (Drimnagh to Jervis)

Saldão pra vender todas as coisas de casa. Quem dá mais ?? quem ?

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