A saga do retorno ao Brasil – Parte III

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Olá pessoal .. vamos seguir com a nossa série de posts sobre o retorno ao Brasil depois de realizar um intercâmbio na Irlanda. Ficar 3 anos fora e depois voltar não é uma tarefa tão simples e a melhor forma de se planejar para esse processo é ler .. ler e ler mais coisas sobre o assunto.

No nosso último capitulo o assunto foi pesado. Logo nos primeiros passos dentro do aeroporto começam os choques e esse cenário segue por algumas semanas ou meses. Já falei de tudo até chegar em casa depois de uma jornada de quase 30 horas de avião e carro. Agora chegou a hora de falar das primeiras 24 horas no Brasil.

Bem, encontrar meu pai e minha mãe no aeroporto já foi muito legal. Uma sensação indescritível porque foram 3 anos longe de tudo (essa foi uma das melhores coisas ever). Chegando em casa começou um outro momento que eu não esperava. Quase tudo estava igual mas foi estranho entrar na sala, na cozinha, no banheiro depois de tanto tempo. Tive a mesma sensação de estar entrando ali pela primeira vez. As cores, objetos, móveis foram me trazendo lembranças, momentos e situações porque afinal vivi quase 29 anos naquele lugar. Logo em seguida fui na casa da minha avó que fica na mesma rua e tudo era diferente. Foi muito estranho e não consigo descrever a sensação de estar andando por aqueles lugares depois de 3 anos. Ai começam as comparações. As primeiras horas e dias são basicamente construídos de comparações porque apesar de não ser especialista no assunto acredito que o cérebro esta tentando harmonizar tudo aquilo. É como se você estivesse andando em Dublin, piscasse os olhos e logo em seguida já estava andando no Bairro Alvorada kkk.. é muito louco. Perdi meu avó durante o intercâmbio então foi meio complicado visitar a casa deles e não vê-lo no sofá. Apesar disso tudo foi muito bom naquela noite. Bem, voltei pra casa e enfim dormi a primeira noite na minha cama. Em Dublin sempre disse que o intercâmbio só começaria a fazer sentido depois que eu voltasse e dormisse a primeira noite em casa. Bem, na verdade foi quase assim, tirando a parte que consegui dormir apenas 3 no primeiro dia. Com o fuso horário de 4 horas no mês que retornei foi complicado. Demorei quase 3 semanas para voltar a dormir normalmente. Ao acordar no primeiro dia tudo foi muito intenso, muito louco e estranho ao mesmo tempo. As imagens de Dublin vinha a cabeça e ao mesmo tempo muitas perguntas sobre como estão as coisas, a rua, construíram um prédio, pintaram aquela casa, cortaram aquela arvore .. kkk é uma loucura. Logo depois do almoço sai de casa para fazer o processo de renovação de caminha CNH e comprar um chip de celular. Optei por ir andando pra ver tudo  e sentir a cidade, me arrependi. P… calor, carambolas.

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Pastel de frango com catupiry. Correndo atrás do tempo perdido.

Da minha casa até esse local da renovação levei pouco mais de 30 minutos e confesso que sofri no caminho com o sol e com o calor. Esse choque é muito grande em todos os aspectos. Finalizei o processo inicial da CNH e depois fui pro centro observando as ruas, os carros e as pessoas.  Não é possível descrever em palavras esses momentos porque tudo é muito intenso, bonito, assustador. Ver locais que você andou a vida inteira, ver as mudanças, avanços e retrocessos ao longo de 3 anos é realmente estranho. A maioria das coisas continuam iguais mas da pra sentir que o mundo deu muitas voltas, lojas fecharam, outras abriram, novos semáforos, alterações no transito etc.. As pessoas são diferentes, os carros mudaram.. é muito intenso. Depois de resolver outros assuntos como cartão de banco e titulo de eleitor fui comprar o chip. Cheguei e pedi um SIM CARD kkkkkk a mulher olhou pra mim e não sabia se falava o que? ou como?. Percebi e já mandei um chip de celular mesmo kkkk Essas situações acontecem muito nas primeiras semanas de você falar palavras em inglês principalmente o SORRY kkk, é engraçado …. aos poucos tudo vai voltando ao normal mas mesmo hoje depois de 3 meses ainda solto algumas pérolas por ai kkk. Voltando ao assunto do chip veio outro choque por causa dos valores das ligações, planos de internet e principalmente qualidade do serviço. Não preciso comentar porque todo mundo já esta cansado de saber mas é triste falar que até a LYCA/TESCO são melhores que qualquer operadora no Brasil… tenso. (minha modesta opinião). Do centro não sei de onde tirei a idéia de ir pra casa da avó da Stéfane também caminhando. Depois de mais 40 minutos cheguei quase esgotado por lá porque não sabia o que era realmente ficar suado a muito tempo. As pernas estavam boas mas o cansaço que o sol trás é muito grande principalmente  nas primeiras horas depois do retorno porque como todo mundo sabe na Irlanda o frio predomina o ano inteiro, quase. Dali foi embora de carona e depois de andar o dia todo no sol achei que iria dormir bem porque estava realmente cansado mas a segunda noite foi como a primeira.. poucas horas de sono mal dormidas.

… no próximo post: as pessoas, amigos, casamentos, filhos etc.. O que aconteceu durante os 3 anos de intercâmbio.

Pra fazer um intercâmbio você tem que ter coragem !

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Recebi uma pergunta hoje da Janaína. Ela me perguntou sobre idade, possibilidades e tudo que poderia acontecer num intercâmbio pra ela. Me lembrei de umas coisas que aconteceram antes da viagem dai resolvi escrever um post sobre isso:

Fazer um intercâmbio é muito mais que sair do país, você vai viver coisas que sempre sonhou passar dificuldade que nunca quis e no fim terá historias para o resto da vida além da incrível experiência de morar fora. Pra viver esse sonho você tem que ter coragem e não idade. Quando decidi e contei para meus amigos que realmente iria terminar o TCC e me mudar pra Irlanda todos ficaram assustados, alguns me disseram que também queriam mas não tinham como deixar, casa, família e tudo que tinham construído ao longo da vida para viver essa experiência. Outras que já sentiram a essa sensação me incentivaram e me deram conselhos. Naquela época lia muito sobre a tal “Zona de Conforto”, era uma loucura ler sobre pessoas que deixaram suas mesas de escritório para trabalharem fazendo limpeza, entregando jornais.. Sempre pensava que seria complicada essa adaptação mais no fundo eu queria viver isso, queria deixar a minha “vida” pra trás e embarcar rumo ao desconhecido onde não tinha a mínima ideia de nada, não conhecia nenhuma alma viva e muito menos tinha domínio da língua. Acho que essa vontade esta viva dentro de todas as pessoas mais somente algumas tem a coragem de encarar o desafio e partir em busca dos sonhos.

Daqui a exatamente uma semana vou completar 1 ano na Irlanda, confesso que sinto falta as vezes da minha “vida” em Patos de Minas onde tinha minha moto para ir onde queria em poucos minutos, tinha meu emprego estável, minha casa onde morava com minha mãe, meus amigos e pessoas com quem contar mais isso esta tudo lá ainda, estou aqui por um período determinado. Essa “vida” fica lá em movimento enquanto estou aqui vivendo outra situação completamente diferente onde a cada dia tenho desafios novos, situações novas, medos e incertezas mais, sobretudo tenho a certeza de ter feito a escolha certa. Paro as vezes para pensar em tudo que tem acontecido e as vezes não consigo acreditar nas sensações que vivo aqui, nas coisas que vejo e na experiência de ter contato com pessoas de outras nacionalidades, conhecer novas culturas, aprender uma segunda língua e ainda me desenvolver no campo profissional e principalmente pessoal. Uma pessoa me disse aqui em Dublin que por mais que tentemos não conseguiremos ter a noção de tudo que estamos vivendo estando ainda na Europa. Somente depois de voltarmos e deitarmos nas nossas camas e acordarmos no nosso quarto que realmente sentiremos e entenderemos tudo que aconteceu no seu período de intercâmbio. Dai será processar tudo e seguir a vida deixada no Brasil.

Acredito que uma vida só é boa se for bem vivida e como será o nosso futuro se não tivermos historias para contar? Sair da zona de conforto é justamente isso, criar novas coisas, começar uma vida totalmente do zero onde você tem que trabalhar para se sustentar diariamente, fazer seu almoço, lavar a passar sua roupa, procurar trabalho numa rua que você não conhece tentar comprar uma coisa no supermercado sem saber o nome certo, ver os cães se comunicarem melhor que você, ter que economizar seu dinheiro porque no final do mês vence o aluguel, energia, internet, taxas do lixo, taxa da televisão, celular e todas as outras coisas que você nunca sonhou ter com que se preocupar. A vida realmente tem que ser construída com experiências, acho que ai sim quando chegarmos ao final da nossa jornada sentiremos aquela sensação de dever cumprido: Eu vivi uma vida bem vivida.

Bateu a saudade

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Essa semana quando fomos ao supermercado nos deparamos com esse humilde pacotinho de manga.

Estava na promoção e compramos claro, chegando em casa me lembrei da facilidade que é comprar frutas ou até mesmo “pegar” em estradas ou fazendas de parentes. Em nossa cidade, a querida Patos de Minas e normal você parar seu carro ou fazer um programa de final de semana para ir as diversas regiões com dezenas de pés de manga.

Apesar de ter surgido no sul e do sudeste asiáticos a fruta é amplamente cultivada e comercializada no Brasil entretanto apesar do grande potencial climático o Brasil contribui com apenas 10% do total de exportações no mundo com cerca de 67.172 toneladas de acordo com a embrapa.

Claro que é possível comprar frutas de todos os tipos e preços por aqui na feirinha ou nos supermercados, entretanto nenhuma chega perto da qualidade e sabor das frutas tupiniquins.

Zona de conforto x Auto Conhecimento

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Como já citei aqui em outro post, sair da zona de conforto pode trazer vários problemas e dificuldades para uma pessoa, mais pode ser também uma possibilidade de auto conhecimento e disciplina. Quando estamos em nossas casas confortáveis e temos tudo à disposição; roupas limpas, comida e nossas camas arrumadas as coisas parecem ser praticamente impossíveis longe dessa redoma de cristal. Claro que dá pra mesclar as duas coisas e sair com o objetivo alcançado, isso porque ninguém é de ferro não é verdade?

Sempre morei com minha mãe e depois de 28 anos e meio resolvi sair da barra da saia dela para buscar algo maior na minha vida. Tive que deixar grandes amigos, toda uma vida pessoal e profissional construída em Patos de Minas – MG. Morava em uma cidade de cerca de 150 mil habitantes e você acaba formando um ciclo muito grande de conhecidos e parceiros profissionais ao ponto de para qualquer problema um contato pode ser acionado para resolver ou indicar uma solução. Havia terminado de concluir minha graduação em Comunicação Social – Publicidade e tinha algumas propostas para sair da minha cidade, mais resolvi fazer um intercâmbio em busca de outras oportunidades num futuro próximo.

O ato de sair de casa não é nada fácil mais se feito com muita preparação leva o ser humano a frente de seu tempo e te deixa preparado para as adversidades. Primeiro é precisar saber o que se quer fazendo uma loucura dessas, definir suas metas e objetivos e traçar o caminho mais seguro para se alcançar o sucesso almejado. Quando estava na faculdade tive a graça de conhecer professores que me impulsionaram a ser uma pessoa mais destemida e mais consciente de que a caminhada humana é construída por desafios e pelo doce sabor da vida que tem que ser deliciada por completa todo dia, mais que também é sempre bom guardar uma gota desse sabor parar uma eventual ocasionalidade – Professor Moacir. Por falar no Professor Moacir foi com ele que aprendi a encarar a vida como uma grande peça teatral em que somos ao mesmo tempo diretores e protagonistas, que é preciso ter o controle total, mais também deixar os fatos da vida contribuírem para um desfecho mais completo e realizado.

Desde que pensei em sair mesmo do Brasil em busca de conhecimento sempre tive um certo receio porque convenhamos é um risco tremendo, por um lado o investimento financeiro que não é assim pouca coisa e por outra a adaptação longe de casa, dos amigos e da rotina criada ao longo dos meus 28 anos. O lado financeiro pesou já recém formado torrei dinheiro que tinha e que não tinha em 4 anos e ainda no final na formatura, fotos, roupas ,etc. Mais sempre acreditei que seria possível, parcelei um pouco, tomei dinheiro emprestado e vendi minha moto. Aqui estou em Dublin quase 1 mês e me sinto completamente em casa com todo que tem acontecido e as pessoas que tenho conhecido, me sinto a vontade pra andar por todo lado, pra pedir informação, pra comprar coisas no supermercado e sair na cidade em busca de algo novo. Sinto-me muito a vontade com o clima e mais a vontade ainda em casa. Tive a graça de conhecer 3 gaúchas muito legais, as mesmas que alugamos um apartamento e estamos morando eu, Stéfane e elas. Com isso o valor do aluguel ficou abaixo do que havia planejado. Por falar na Stéfane é uma parte que me ajudou bastante já que ela esta aqui e faz parte de tudo que esta acontecendo e os planos para o futuro, é uma parte que graças a Deus ajudou porque deve ser foda porque deixar os pais já foi complicado, e entrando nessa lista namorada, esposa e filhos a situação se torna muito mais difícil.

Acho que o momento certo pra fazer uma loucura dessas é a qualquer momento. Sempre é o momento certo basta o planejamento, ousadia e a coragem que na maioria dos casos falta. Quando estava pra vir todo mundo dizia que era bacana demais, que estava fazendo a coisa certa mais que não teria coragem de fazer o mesmo. Como disse sair da zona de conforto não é nada fácil mais pode ser uma oportunidade muito grande para o auto conhecimento e descobrimento de outro mundo fora das barreiras e rotinas que criamos ao longo da vida.
Sair da zona de conforto por outro lado pode deixar a pessoa com “muitas asas” e isso pode ser um problemão porque estando fora de casa as coisas parecem sempre mais fáceis e sem limites. Aqui em Dublin a moçada se diverte todo dia, todo dia tem pub, tem show, tem festas e tudo mais que se pode encontrar numa grande cidade. Muita gente acaba se perdendo dentro do projeto inicial e dedica sua estadia aqui somente para curtir a vida e acaba deixando tudo que foi sonhado de lado para curtir a vida por 1 ano (tempo médio de visto para estudantes) e depois acabam voltando para o Brasil apenas com a experiência de ter vivido fora do pais sem ao mesmo ter aprendido inglês de uma forma que dê pra aproveitar a língua de alguma maneira. Como disse é preciso ter foco, se for estudar estude, se for apenas curtir, curta claro ao extremo.

Conheci pessoas na internet que trancaram a faculdade no Brasil, venderam carros, ou esperaram terminar o curso ou apenas deram na cabeça e pularam de para quedas aqui na ilha. Cada um sabe seus tempo e o que pode acontecer, então faça suas escolhas, se planeje e coloque a mochila nas costas e parta em direção a seu sonho que ele vai se realizar, depende apenas de você.

André Luiz de Oliveira
28 dias em Dublin, Ireland.